Tenho, neste início de ano, me deparado com muita gente de meu convívio que está ingressando na faculdade. Nos mais variados cursos, nas mais variadas instituições. E as impressões iniciais dessa gente não poderiam ser mais diversas, o que eu acho bastante divertido. A título de entendimento, formei-me em jornalismo no ano passado e estou cursando o último ano de filosofia (os cursos, no caso, pouco importam), ou seja, tenho um certo conhecimento de causa sobre o que andam gritando aos meus ouvidos.
A balbúrdia já começa com o bendito (maldito?) do trote. “Ai, meu deus… vão me matar!”, “E se eu não for? Nunca terei amigos…”, “Cara, vou tomar todas e ficar muito lóki!” e assim vai… Em primeiro lugar, devo dizer que não acho nada mais estúpido nessa ambientação acadêmica do que o trote. Hoje em dia, salvo raras e médicas exceções, os trotes têm sido mais amenos, menos animosos. Foi-se o tempo em que se morria nessas brincadeiras. As faculdades têm estado cada vez mais zelosas a esses happenings, afinal, em última análise, é o nome delas que está em jogo. Colocam meia dúzia de seguranças, uma outra meia-dúzia filmando tudo e o máximo que conseguimos é uma meia-dúzia de vômitos ao fim do dia no meio-fio diante da faculdade. Ou seja, salvam-se todos. O cabelo é um caso à parte, mas sempre fui da opinião de que um bom grito resolve a situação, caso as madeixas sejam inevitáveis em seu dia a dia.
Quanto à questão do “se eu não for, passarei quatro anos isolado”, nada mais falso. Eu, particularmente, não fui a um dos trotes e no que fui acabei me envolvendo com a turma de hotelaria, pois era um amigo meu que capitaneava tal espetáculo (aliviando muito as coisas pro meu lado), ou seja… bobagem achar que não terá amigos. Você terá quatro anos para conhecer pessoas, desgostar de pessoas, se apaixonar e tirar muito sarro dessa fase boa da vida. O trote é só um momento onde os ditos “veteranos” (observação: eu nunca dei trote, mas as pessoas que o faziam, eu nunca as via durante o resto do semestre. Nunca… Acho que era uma facção especializada em trotar (trotear?), bastando isso para que se formassem com as devidas honrarias, pois aula que é bom, nunca vi essa gente assistindo) irão tentar provar a máxima de que manda quem pode e obedece quem tem juízo, enfim, irão tentar mostrar o univesity way of life… Tudo bobagem. Não quer ir, não vá.
É claro que existem trotes bacanas, onde as pessoas realmente se conhecem, se divertem, curtem uma boa birita e dão risada, bem sei, mas, a titulo de registro, faço questão de deixar aqui a impressão mais negativa possível dessa estúpida modalidade.
Eis que começam as aulinhas. Muita expectativa, muito entusiasmo e as impressões bifurcam. Há aqueles que realmente pagam um pau (com o perdão da expressão) para a faculdade que escolheram (ou que os acolheram, dependendo do caso). É coisa de primeiro mundo, nunca viram nada tão demais, nem pessoas tão incríveis, os professores são verdadeiros gênios e os banheiros não poderiam ser mais limpos. Isso sim é que é faculdade! Calma. Muita calma. Valorizo muito essa animação, mas, acredite, mais cedo ou mais tarde você vai se irritar com algumas coisas com as quais não concordará, vai ver que o funcionamento da instituição não é necessariamente um relógio suíço e que os professores, como qualquer ser humano que se preze, têm sim seus defeitos, às vezes até bastante graves. Decepções sempre hão de pintar por aí. A sua faculdade dificilmente é melhor que a minha ou a dele, a única diferença é que eles sabem vender bem o produto. Afinal, quem faz a faculdade somos nós. Ter o máximo aproveitamento daquilo depende exclusivamente da gente. Seja aqui ou seja lá, ser um bom profissional depende de nós. Sendo assim, tenha calma ao achar que sua faculdade é a fina flor do campo.
Na outra mão eu tenho aquela gente que está odiando tudo. A faculdade, a sala de aula, a turma, as aulas, os professores. Não poderia ser um suplício maior ter que ir diariamente àquele lugar. “Nossa, não conheço ninguém da minha sala… tô super sozinho” ou “As pessoas são super chatas na minha sala”. Caríssimo, você está na primeira semana de aula. Tenha calma! Você terá quatro anos pra conhecer essa gente. Vai gostar de uns, saber o nome de outros e, com sorte, sair com um ou dois amigos para a vida toda. É absolutamente impossível ser amigo da sala toda. Nem o velho e bom J. Cristo agradou a todos, portanto, take it easy!
A sala está caindo aos pedaços? Atente-se ao que diz seu professor. Quando ele começar a esquecer o próprio nome, aí sim comece a se preocupar. Até então, desfrute da aula, não de onde a aula é dada. (É, alguns reclamam que os professores são muito velhinhos)…
Aos que não estão gostando das aulas, também sugiro calma. Está só começando. Assim como os encantados irão ficar de saco cheio mais cedo ou mais tarde, os desencantados poderão se encontrar em alguma parte do caminho. Preocupante é você chegar ao sexto semestre com essa impressão. Até então (ou um pouco antes), dê uma chance para o curso te encantar. É impossível que nada ali te agrade, até porque quem escolheu o curso, supostamente, foi você.
Os mitos e realidades que rondam o início de faculdade são vários. Cada qual tem o seu, cada qual tem que ter o seu, faz parte do jogo. A grande sacada é ir desmistificando-os pouco a pouco, é ir caindo na real e, acima de tudo, curtir e aproveitar ao máximo (intelectualmente, não etilicamente) essa temporada, que passa voando e quando acaba dá uma saudade danada. São bons anos (não digo os melhores, como ouço muito por aí) de nossa vida. Resta-nos decifrá-los!
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