Ao longo desta semana, não sem esforço, consegui assistir às cinco edições do “Central das Eleições”, da Globo News. A cada dia, um dos cinco mais bem posicionados candidatos à Prefeitura de São Paulo foi sabatinado por seis competentes jornalistas.
Foi um exercício excelente. Diferente de um debate, em que imperam a animalidade, o discurso pronto e, principalmente, o escape às questões, ali, diante de jornalistas experimentados, fica mais difícil fugir pela tangente. E é justamente aí que a mágica acontece.
A seguir, faço um breve balanço do que percebi na participação de cada um dos postulantes ao cargo.
PABLO MARÇAL
O ex-coach foi o primeiro sabatinado. Foi, admito, a primeira vez em que parei para dar alguma atenção ao que o sujeito diz e tentar entender um pouco o modus operandi do rapaz. Não tive grandes surpresas. Dizer que havia ali propostas vazias seria admitir que havia propostas. Não havia. O que encontrei foi a tentativa de ser antissistema, a saber, ataque direto aos jornalistas, ideias mirabolantes e inexequíveis, os olhos sempre focados nas câmeras – e não no interlocutor –, prontos para o corte das redes sociais. Ali, afinal, ele estava jogando para sua própria torcida.
Aquele jeitinho jeca combinado com arrogância e ignorância deram o tom da conversa. Evidentemente, ele não conhece a cidade, seus reais problemas e as maneiras viáveis de se solucioná-los – nem que sejam alguns deles. Para qualquer ouvinte com um mínimo de clareza, discernimento e algum senso político, fica claro tratar-se de um embuste, um garoto com senso de grandeza brincando de querer ser prefeito da maior e mais rica cidade do Brasil. No entanto, vivemos tempos sombrios, em que as pessoas já não querem mais falar a sério e parecem não tolerar mais a ideia da política como ela deve ser feita, como ela existe, o que faz de aberrações como esta um risco real para a cidade.
RICARDO NUNES
Ele, que até outro dia era o candidato apoiado por Bolsonaro e, por consequência um perigo real do emaranhamento da extrema-direita na política paulistana, após o surgimento de Marçal, tornou-se um candidato absolutamente razoável, um representante da legítima direita.
Durante a sabatina, mostrou conhecer a cidade, seu funcionamento e seus problemas. Como incumbente, apresentou tudo o que havia sido feito e o que teria continuidade. Quando questionado sobre as irregularidades de sua gestão, como a Máfia das Creches e a ligação direta do PCC com o transporte público, por exemplo, saiu-se com a velha ladainha de sempre, de que tudo foi investigado e que ele havia sido inocentado. A ver.
TABATA AMARAL E GUILHERME BOULOS
Os dois, ao lado de Nunes, representam a política profissional – o que, diga-se, é ótimo e desejável. Já vimos que esse papo de outsider e antipolítico acaba em tragédia. Ambos pertencem ao campo progressista, com Boulos um pouco mais a esquerda, sem, no entanto, qualquer sinal de radicalismo.
Na análise, resta pouco a dizer, uma vez que não há aberrações em jogo. Ambos têm suas propostas, respondem às perguntas com educação e conhecimento, demonstram saber sempre do que estão falando, conhecem a cidade e seus problemas. Ou seja, nada de novo. Ainda bem.
JOSÉ LUIZ DATENA
Este chega a ser cômico. Os próprios jornalistas já estavam rindo em determinado momento. O camarada está lá a passeio. Ele não faz a menor ideia de quais são suas propostas, quem será a sua equipe, o que fazer ou quanto custará cada coisa. Embora não seja má pessoa e nem sociopata como aquele outro, ainda assim, é absolutamente inviável como candidato.
Na bem da verdade, o que parece é que ele está de saco bastante cheio de tudo isso. Não vê a hora de voltar para o seu programa, onde manda e desmanda, diz o que quer e como quer. Não à toa, esta é a quarta ou quinta vez que ele diz que vai, mas não vai. De todas as vezes, essa é a que foi mais longe, porém, com um desempenho pífio nos debates – afinal, debate político é completamente diferente de falar por três horas seguidas, ao vivo, à frente de um programa de TV – já se tocou que não tem chance alguma e demonstra mesmo bastante cansaço.
CONCLUSÃO
Estamos diante de um show de horror. Com Marçal agindo como um moleque, tentando tirar os adultos do sério, o debate tornou-se inviável e a campanha em si não acrescente nada de novo ou torna-se palco para ataque ao adversário.
Saudades da última eleição para prefeitura de São Paulo, em que, como dois cavalheiros, Boulos e Bruno Covas fizeram uma das campanhas mais limpas e bem-educadas da história.
Segundo último Datafolha (5/9/24), Boulos, Nunes e Marçal estão embolados em primeiro lugar, o que é trágico para a cidade e para a sociedade em geral. Eleger um cancro como Marçal é o atestado de que falhamos enquanto raça humana.
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