Muito já se falou do alto teor nazista presente no vídeo estrelado pelo ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro, o diretor teatral Roberto Alvim, e não cabe a mim falar ainda mais sobre isso. É barbárie, é cafona, é errado, é feio, é o que há de pior, etc, etc, etc. A lista é longa. Ponto.
Minha questão está um degrau abaixo de tudo isso e se posiciona alguns minutos antes da publicação do tal vídeo. Qual foi, será, o clima nos bastidores? Como terá sido a reunião de pauta em que se decidiu o texto – que, diga-se, é absurdo de ponta a ponta e não só no trecho que recita Goebbels –, o figurino, o cenário, o BG? Terá tudo transcorrido na mais plena serenidade, com todos de acordo, ou algum abnegado teria levantado a mão e questionado, como quem não quer nada:
– Escuta, será que não é um pouco descabido fazer um remake de uma cena nazista, literalmente nazista, assim, do nada, tão escrachadamente, para falar sobre o futuro da cultura no país? O que vocês acham? Estamos exagerando na dose ou é noia minha?
Pelo visto, acharam ser mesmo noia do coitado, se é que existiu, em algum momento desse enredo maluco, algum coitado. E isso é o que mais me deixou perplexo. Como diabos autorizaram – fico a me perguntar quem é que autoriza esse tipo de coisa – que aquilo fosse a público?
Porque, digamos que realmente escapou – não de quem escreveu, mas de quem analisou – a famigerada citação nazista. E todo o resto, falando de Deus, de tradição, de valores, de conservadorismo e família (vale lembrar que estamos falando de Cultura), de forma tão cafona e descompassada com o atual passo evolutivo da sociedade? Nada disso chamou a atenção de ninguém? Não piscou nem um sinalzinho de alerta, de “ops, isso vai dar merda”? Como pode?!
Depois de ter dito que assina embaixo de tudo o que foi dito, que foi apenas uma “coincidência retórica” e que não há mal algum em nada daquilo, ou seja, após tentar defender o indefensável, Alvim foi, espantosamente, demitido por Bolsonaro, com quem, inclusive, ele disse ter conversado após o início das polêmicas e recebido apoio.
Muito bem, não havia outra saída a não ser essa. Um a menos no freak show presidencial. Mas, no frigir dos ovos, qual é o rescaldo de tudo isso? E aquela turminha que citei lá em cima, que não foi capaz de identificar o tamanho da cagada? Fica tudo na mesma? Não está mesmo acontecendo nada? Isso me preocupa.
A substituição do secretário, como não poderia deixar de ser, será à altura, conforme tudo indica: Regina Duarte, provavelmente a única integrante do primeiro escalão artístico-televisivo a militar em favor desse governo e de não achar no mínimo estranho estarmos nas mãos de racistas, corruptos, homofóbicos, autoritários e admiradores de torturadores – dentre outros bichos.
Aguardemos para ver no que vai dar, mas admito que, tendo em vista o potencial desse governo de reunir em volta de si o que há de pior na sociedade, chego a torcer para que a namoradinha do Brasil aceite logo o convite e que seja o que deus quiser. Tenho realmente medo do que pode vir por aí, caso ela não tope a parada.
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