“Entretanto, não havia a menor dúvida: o Contador estava mesmo morto”. Sim, Mario Prata matou seu contador na primeira linha de seu novo romance policial, “Os viúvos” (LeYa, 288 pp., R$ 39,90). Por razões razoavelmente lógicas, o assassinato ficou restrito à literatura, mas os motivos que o levaram a isso são bastante reais. Vítima de um contador larápio que não repassava o pagamento de seus impostos e de uma Receita Federal pouco disposta a entender o que de fato havia ocorrido, Prata consegue transformar um drama pessoal em uma narrativa ágil, engenhosa e muitíssimo bem-humorada.
Precedido por “Sete de paus”, “Os viúvos” é seu segundo romance policial, que tem como protagonistas o já imortalizado investigador Ugo Fioravanti e seu assistente Darwin Matarazzo. O pano de fundo é Florianópolis, cidade em que o escritor vive há nove anos. Prata explica que o fio condutor da obra nada tinha a ver com impostos, Receita e contadores, mas o decorrer dos acontecimentos em sua vida o levou a deixar sua proposta inicial (um príncipe de Dubai que solicita os serviços de Fioravanti com a esperança de que este encontre uma mulher, sendo que a única foto que dispõe é de um par de nádegas…) em segundo plano, para, numa espécie de catarse, colocar no papel tudo aquilo que viveu enquanto resolvia sua involuntária pendência tributária.
Mario Prata, assim como alguns diretores de cinema, é o tipo de autor que tem assinatura própria. Basta bater o olho e já reconhecemos seus traços em um texto. Autor de outros romances, como “James Lins”, “Purgatório”, “Os anjos de Badaró”, além de suas inesquecíveis crônicas, nos últimos tempos Prata resolveu se dedicar ao romance policial, gênero pelo qual se diz apaixonado e no qual pretende permanecer por um bom tempo, levando adiante as aventuras de Fioravanti. Para desempenhar tal tarefa, ele mostra ter todos os requisitos básicos: narrativa ágil, muita ação, uma criatividade ao desenvolver seu enredo que deixa o leitor preso até a última página e, acima de tudo, um atributo extra que só faz engrandecer seu trabalho, o bom-humor.
Com “Os viúvos”, Prata consegue entreter e ao mesmo tempo fazer uma crítica aos sistemas tributário e burocrático brasileiro, que, em última análise, mostram-se altamente passíveis de erros que acabam por levar tantos cidadãos à mesma barafunda vivida pelo autor.
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