Sim, eu vejo BBB

FELIPE LIMA

6 abr, 2022

Sobre o Big Brother Brasil, muito já foi falado, teorizado, criticado e feito, de um modo geral. Aqui, hoje, não tenho pretensão alguma de entrar nesses aspectos mais, digamos, chatos. “Ah, é uma experiência sociológica.” “Ah, é um recorte da nossa sociedade”. “Ah, eles discutem temas relevantes…” Não, nada disso vem ao caso! Quero, hoje, falar sobre o BBB enquanto um bom programa de entretenimento que, em última análise, é o que ele realmente é e o que nunca deveria ter deixado de ser.

Existe muito preconceito – hoje, um pouco menos do que anos atrás, diga-se – para com quem acompanha o reality. Por algum motivo, criou-se uma aura de futilidade sobre ele, de modo que alguém que lê livros, curte boa música e tem algum privilégio intelectual jamais chegaria perto de algo tão baixo e vil como o programa. Dá para entender, afinal, no geral, os participantes são brasileiros médios, com um nível intelectual não muito avantajado e os papos e comportamentos, muitas vezes, deixam mesmo a desejar. Porém, vamos sempre lembrar: estamos falando de entretenimento raso. Há quem goste de futebol, por exemplo. Tem coisa mais rasa do que isso, com personagens mais limitados? Qual, afinal, é a diferença entre uma coisa e outra? Há quem assista novelas, há quem não perca um programa de fofocas, enfim, a lista é enorme e, em última análise, repito, são todos entretenimentos. A partir do momento que aceitamos isso, muitas barreiras se quebram.

Neste ano, em especial, o Big Brother está sofrendo diversas críticas por ter um elenco fraco e, digamos, muito dócil, afinal, as pessoas não estarem matando umas às outras não convém para um público ávido por uma baixaria no horário nobre da TV. Seriam dissidentes do Ratinho ou do João Kleber? Não sabemos. O fato é que, de minha parte, tenho achado o máximo ver a turma se dando bem, em plena harmonia. Se, afinal, o modus operandi é ser podre, acho de muito bom tom ver algo um pouco diferente, ver piada, ver afeto, ver graças que poderíamos estar fazendo com nossos amigos.

De todo modo, não quero me estender sobre a análise do jogo em si ou dos participantes em geral, com destaque para o fenômeno Arthur Aguiar que, mesmo após ter traído a esposa mais de uma dezena de vezes – e quem conta isso? E como nós sabemos disso? ­−, segue sendo uma potência e, provavelmente, sagrar-se-á campeão. Aliás, eu mesmo gosto muito dele, considerando-o um tremendo jogador, com uma oratória e um poder de argumentação invejáveis. No entanto, o meu objeto de análise aqui é o preconceito das pessoas para com o programa.

Ano passado, lembro-me claramente de minha madrinha me enxovalhando por eu estar comentando sobre o programa não sei com quem. Nesse ano, cá está ela me mandando mensagens a cada paredão, querendo saber o que eu acho disso ou daquilo. Ou seja, é interessante ver que as pessoas vão se permitindo curtir o espetáculo.

Por outro lado, seguem existindo os paladinos da cultura, que não toleram a diversão pura e simples. Por que será que isso incomoda tanto a essas pessoas? Ora, se um dos jornalistas mais interessante da nossa geração, Pedro Bial, se dedicou ao projeto por tanto tempo e seguiu sendo esse camarada brilhante, quem somos nós para tanta rejeição?

E tem outra coisa muito interessante nisso tudo, que é o sentido de pertencimento. Ora, nada mais gostoso do que estar por dentro do papo, de chegar em um grupo e soltar um “e a Jade, hein, insuportável!” e ser acolhido. Isso não tem preço! E, afinal, são apenas alguns poucos meses disso por ano, depois acaba e tudo volta ao normal. Ah, e é claro que também vale se irritar profundamente. Nem tudo são flores. Aliás, muito pouco é florido por ali. Na maior parte do tempo é irritação, chateação, comentário imbecil, gente chata falando groselha, lacração e cagação de regra. Não é moleza tolerar, mas eu tento e até consigo me divertir.

Então, meus amigos, sugiro expandirem vosso mundinho e ficarem mais abertos ao simples, ao raso e ao trivial. E, claro, antes de o programa começar ou após seu término, nada te impede de ler um livro, escrever um artigo filosófico ou ver um belo filme de arte, para que o cérebro não embote de uma vez.

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